quinta-feira, 25 de junho de 2009

...



A cara do mal...


Adelaide sabia que o tempo estava quase no fim. Foi para o trabalho como noutro dia qualquer e, como noutro dia qualquer, na sua cabeça já tinha tudo planeado caso aquele dia fosse o dia.


Sentiu as dores, tão ansiadas como temidas, poisou as suas coisas e saiu. Foi para casa.


Durante o caminho, enquanto tentava suportar as dores inerentes à sua condição, nada pensava. Já nada havia para pensar, tudo já há muito estava pensado.


Quando chegou a casa tudo estava perto de ser aquilo que ela quis que fosse.


Foi então que se dirigiu à casa-de-banho, sentou-se na sanita e puxou o bebé pelo pescoço.


Aqui levamos o primeiro soco no estómago. Eu levei, acredito que aconteça o mesmo a outros que venham a ler isto ou àqueles que já estão a par deste caso.


Com o bebé nas mãos Adelaide não sente o apelo de quem acaba de ser mãe. O único apelo que tem é o de continuar com a sua mão no pescoço do seu filho recém-nascido. E continua até não saber quanto tempo ficou assim, com a sua mão no pescoço do seu filho.


O seu filho não chorou. Nem sequer teve tempo. Não o deixaram marcar presença neste mundo. Violaram-lhe e mataram-lhe a inocência antes sequer da inocência dar sinais de vida.


O pai da criança encontrou-a passado uma semana congelada numa arca frigorífica. O homem, que pelo que dizem nunca desconfiou da gravidez, ficou em choque com a descoberta. Presumo que as pessoas que não prestam se façam rodear de pessoas à sua imagem e semelhança...


Já há alguns dias que pensava se havia de escrever sobre isto. Este caso afectou-me bastante e não sabia se havia de escrever sobre ele e, se sim, sobre que ângulo procurar uma abordagem. Dava comigo a pensar nisto tantas vezes que nem sequer me apeteceu escrever outro post qualquer. Fosse ele qual fosse. Não consigo entender este mundo em que vivemos. Não consigo entender as pessoas que nele vivem.


...Adelaide afirmou, com calma e tranquilidade, perante os juízes, no passado dia 22, que matou o seu filho porque não o queria.


Adelaide é casada, tem mais três filhos e está novamente grávida. Os seus filhos - de sete, dez e quinze anos - continuam a viver com a mãe apesar de esta estar acusada pela morte de um filho bebé.


A Defesa argumenta que a arguida devia ser condenada a pena suspensa por Infanticídio.


Este caso aconteceu no dia 15 de Fevereiro do ano passado. Desde o dia em que sentiu dores, saiu do trabalho, foi para casa, sentou-se na sanita, puxou o seu filho pelo pescoço, lhe colocou a sua mão no pescoço e o meteu numa arca frigorífica Adelaide nunca foi presa.


E aqui já estamos cansados de levar socos no estómago...




Eu estou... Mas eu sou eu. Já não sei mais como são as outras pessoas...

3 comentários:

  1. Ao longo do meu curso deparei-me com situações como esta ...
    Algumas bem piores do que esta, acredita em mim! (...)

    E nunca um professor nos disse:
    "Foi condenada a X anos ... "

    Por vezes chegava a casa e pensava:
    Jamais defenderia uma pessoa com esta!
    E pensando somente em casos deste género ... perguntava:
    Estarei no curso certo ?
    Eu nunca vou mudar nada. Não vou mudar as leis ... apenas as posso aplicar!! E não concordando com tantas e tantas leis que por aí andam ... como vou fazer? (...)

    Ainda hoje não sei bem a resposta! (...)
    Entendes?

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  2. Ambos sabemos que Lei não implica Justiça... Ambos não entendemos o porquê.

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